sexta-feira, 2 de julho de 2010

Boneco de pano

Senta aqui na minha mão, boneco de pano.
Aproveite para olhar a linha da minha vida.
Bem debaixo da sua bunda, assim.. à esquerda.
Veja que meus traços são fortes.
Que minha pele é áspera, que minhas cutículas
São ressecadas e me machucam as unhas.
Não tenho calos, mas não é difícil de fazê-los.

Senta aqui no meu ombro, boneco de pano.
Aproveite para olhar dentro do meu ouvido.
Bem ao seu lado à altura da sua cabeça.
Veja que daí não se pode ver o meu cérebro.
Que meus tímpanos ressoam quando você grita.
Que há cera que me atrapalha ouvir.
Não tenho cravos, mas se tivesse os tiraria.

Senta aqui no meu peito, boneco de pano.
Aproveite para sentir meu coração batendo.
Bem debaixo da sua bunda, ao lado do meu seio esquerdo.
Sinta que ele reverbera em seu corpo.
Que ele tem um ritmo comum, nada muito frenético.
Que o pulsar te faz se apoiar em meus seios.
Não tenho taquicardia, mas meu coração bate forte.

Agora que você sabe da geografia do meu corpo, boneco de pano.
Começa a olhar para a minha alma.

Um comentário:

Maína Machado disse...

Parabéns de todas as formas possíveis de parabéns! Parabéns pelo blog como um todo, escreva sempre, sempre, sempre! Adoro sentir que de alguma forma, ou... de todas as formas... ainda posso,das formas mais disformes, acompanhar seus pensamentos, e seus desvaneios... Parabéns pelas palavras, me orgulho de ter algo tão sublime tão próximo! Parabéns!!! Amooooooooooooo Samira