quinta-feira, 8 de novembro de 2007


O menino de asas

Era um rancho brigado na justiça por "nullifaccenti"
Às margens do rio grande porque coisa pequena é bobagem
As águas eram calmas, mas às vezes sediam à corrente
Decidiram na matança de um boi fazer uma barragem
Tiraram o boi do labirinto e nem perceberam que era metade homem
O boi fez um último pedido antes da morte trágica
_Quero que matem apenas minha parte boi que a razão me consome
E um churrasco do boi fizeram numa tarde mágica
Um ribeirinho já bêbado e sem muita instrução
Olhando para o rio de três margens
Viu no reflexo da lua achando que era imaginação
Algo que seria uma bobagem
Mas não, era um menino choroso na pedra do rio
O menino que surgiu no meio da noite no meio do rio...

A Imperatriz

Te olho e digo bom dia

Um olhar indiferente me fita

Abro a geladeira e nao tem leite

Guardou pra cachorra, vaca!



Viveu meus dias pueris

Não deu a mínima

Babá torta, mãe oblíqua

In Sônia não havia espaço pra emotividades



E minha humildade ali cresceu

E a vaidade ali emudeceu

E o egoísmo ali desapareceu



Rainha de um reino que não era dela

Rainha de uma escola de forró e não de samba

Mãe da gata e da cachorra

Tormento e salvação da minha personalidade



Não te rimo perfeitamente porque nõa me permitirias rimar

Jaboticabas

As ruas eram vazias e sem sentido uno nos lugares
Numa cidadela dessas ribeirinhas
O torpor da cerveja misturava-se com aroma das frutas nas árvores
Numa cidadela dessas pequeninas
Na lembrança de origem remota e frágil
Uma menina se escondia do vento
No momento de pureza simples e tátil
Uma menina suspirava por um momento
E se precisa desconfiar dos não -fumantes pois fumar é um ato de suspirar
Os habitantes da cidadela imaginavam o que queriam
Era uma criatura de interrogativas sóbrias
Os habitantes da cidadela faziam dela o que queriam
Era uma criança com opiniões próprias
Teciam o mito que a imaginação lhes permitia
Dentro da criança havia pedras
Produziam a vida que ela de longe quereria
Fora da criatura urravam feras
E neste jogo de dentro e fora a vida era simples a olhos distantes, no inferno em que ela escolheu morar. Era apenas uma moça de uma cidadela dessas ribeirinhas, era apenas uma moça de uma cidadela dessas pequeninas, nada mais...

Alma e corpo

Minha alma, minha alma
Minha alma in carcaça de corpo
Dela nada, nada se salva
Só dos olhos é que me absorvo
Arroto o que é convencional
Grito e sinto o que é carnal
Ó, moça burguesa dentro de mim
Por que é que me queres assim?
A minha alma livre do corpo
Apenas te sente pela visão
Teu hálito, teu cheiro e teu gosto
Frutos da carcaça de corpo são
Alma e corpo, mistura que não deu certo quando inventaram o amor.
Corpo meu, corpo meu
Embebedei-me, degustei o cheiro
Do que o nariz comeu
Com as mãos sem um pingo de receio
Invagino-te na noite só
Deixo meu cheiro no teu paletó
Ó, homem viril dentro de mim
Por que é que me queres assim?
Una, fixa, pura e livre?
Se sou duas, dois estados de alma
Almas que loucas vivem
Estranhas In carcaça de corpo-jaula

terça-feira, 6 de novembro de 2007


LUCÌFERA

Era uma anja, dessas que tem sexo,
gênero e feições humanas
Nasceu de uma piscadela da lua com o centauro
Foi condenada a ser mulher no Paraíso
A fatalidade da carne num lugar feito de sonhos
A vida de um não sei onde com um não sei quê
Dividida entre o céu e o labirinto mítco
Filha pungente e oblíqua de pais separados
Queria poder ser só do céu, mas os demais anjos a olhavam de esgueio
Em lágrimas vertia chuva apenas num rio
O rio de três margens onde vento nenhum fazia curva
Que vivia cheio, pois muitas eram as suas lágrimas
E muitas eram as noites que ela substituía a lua
Cansada de ser carne em meio a tanta abstração
Num ato de fúria despiu-se das asas e desceu ao inferno