segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tomo um sopro de brisa, confio no vento e me entrego, mas volto ao porto.
Tomo um vento de maré, confio nas ondas, mas volto ao porto.
Ouço a gaivota ao longe, confio no canto, mas volto ao porto.
Ouço o apito do navio, confio no estrondo, mas volto ao porto.


Ancoro-me nas lembranças que não consigo retingir num papel.
Ancoro-me cravando o peso no solo do fundo do mar.
Onde as águas me representam mulher, sereia e forte.
Onde as águas me fincam no chão e só consigo dar voltas em torno deste lugar.

E se eu tirar a âncora de lá? Para onde eu vou?
Nunca saí deste perímetro, ou já saí e não me lembro mais como era.
Nunca saí deste ponto, ou já saí e temo porque acabou.
Já saí do hábito, foi bom, mas não me lembro como é que se faz.

Sei que se parece com o despertar e a força que se tem que fazer para sair debaixo do cobertor de algodão.

O porto sou eu.
Só me falta ele ser seguro.
Certas demolições têm-no tornado.