segunda-feira, 14 de abril de 2008

E o menino dos mares de morros responde:

Alá, tá vendo?
Qual delas?
Todas!
Impossível, só dá pra ver uma de cada vez!
Por que?
Se você tentar olhar para todas não vai dar atenção para nenhuma.
Mas como olhar para apenas uma se todas tem algo pra mostrar?
É só você escolher qual te atrai mais e olhar para ela.
Tá!
Já escolheu?
Sim!
Qual?
Todas!
Ah, seu moleque!
É como o céu, tem espaço para todas, uma hora tem aquela que voa até o Sol, outra que mergulha entre as nuvens e aquelas que caem para que possamos ampará-las no solo.
Então, aí você está olhando uma de cada vez!
Não, meus olhos estão na alma e em momento algum deixei de olhar por todas elas!
Duvido!
Então, por que estamos aqui?
Para admirar pipas no céu!
E para dançarmos entre elas!
E qual dança você prefere?
Aquela de miúdos desgovernados, sem regras, pura!
Por que essa?
Por ser todas!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Infinito


O professor de matemática acabara de sair da sala e uma conta enorme havia resultado em um milhão.
Números são questões perniciosas, devem ser ministradas com cuidado para crianças.
Afinal, além de não serem palpáveis nem sensitivos, ainda assim não são substantivos abstratos.
São numerais. Ordinais, múltiplos, cardinais. Ainda assim... imaginários.
Há uma maneira particular e pessoal até de tratá-los na mente absorta e fértil de quando somos projeto de gente.
Para mim as letras têm cor, mas os números... ah... eles têm personalidade.
O pequeno projeto de gente perguntou-me o que vinha depois de um milhão.
Adoro a audácia despertando nas pessoas.
Respondi que seria um milhão e um, um milhão e dois... e nessa fomos até minha exaustão matinal chegar ao glorioso e poético infinito.
Falta-me uma palavra exata, mas tratamos de linguagem, subjetiva e simples... quando a audácia vira ambição, ela transpõe a curiosidade do além...
O pequeno projeto de gente não se contentou com o infinito.
O que vem depois do infinito?
Eu poderia deixar Sartre dentro de mim quieto e mudo... mas não:
Nada. Vem O NADA.
Não!
A voz fina, porque as cordas vocais ainda estão se formando, freneticamente na ânsia linda das questões descobertas, quando uma lâmpada aponta por cima da cabeça, afirmou com a convicção que eu queria ter para tudo:
Depois de infinito... vem infinito e um, infinito e dois, infinito e três...
Vou guardar para sempre a melhor aula de matemática que tive, dada por alguém com metade da minha idade.
E depois disso, recosta-me um sigilo imenso das coisas simples, por que não?
Afinal, realmente depois do infinito vem infinito e um, infinito e dois, infinito e três...
As pessoas temem o fim das coisas, mas são meras questões numéricas.
Jeito simplista de ver as questões do mundo?
Não.
Jeito grandioso de ver as coisas na perspectiva de uma pequena mente brilhante.
Guardaria segredo, numa demonstração de egoísmo profundo, mas não consigo.