A filha da Lua com o Centauro
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Orações subordinadas
Vou orar por você
Duas orações subordinadas:
Espero que você sinta todo o meu carinho
Quero que você seja muito feliz
Seria melhor que coordenássemos
Mas nesta imposição de opostos
Subordino-me no meu cantinho, feliz apenas por você existir.
Nina Mansfield
domingo, 7 de abril de 2013
Vendo tomate novinho, vermelho, suculento!
Hoje fiquei surpresa com o preço do tomate!
Não, não era o preço do tomate
eram as possibilidades que nos invadem
É a graça de estar presa por vontade
Pouca poesia, muita prosa
Quanta prosa há em três dias de DR
DR de Drama, minha filha!
Meu drama, minha risada, minha ironia
Que agora são suas
Muita prosa, pouca poesia
Não há mais rimas, sonoridades gruninhosas
e pouco me importa se esta palavra não existe no dicionário
Vou fazer um hinário
De nossas discussões
Desilusões
e que não caiamos em trevas e tentações
livremo-nos de todo mal
E quanto de sal?
Quanto de sal não comemos antes de unir as escovas de dentes
Não sentes?
Estes tantos conselhos tolos
Não choraram nossas lágrimas e não riram nossas risadas
Estes tantos olhares tortos
Não mobiliaram nossas sala, nosso quarto, nosso ninho de amor
Estes tantos medos vãos
Que nos mergulhamos, não impediram que nesta manhã
Nesta manhã de domingo
Não impediram de nos verem sorrindo
Sorrimos, meu amor!
Fizemos piada com o preço do tomate!
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Tomo um sopro de brisa, confio no vento e me entrego, mas volto ao porto.
Tomo um vento de maré, confio nas ondas, mas volto ao porto.
Ouço a gaivota ao longe, confio no canto, mas volto ao porto.
Ouço o apito do navio, confio no estrondo, mas volto ao porto.
Ancoro-me nas lembranças que não consigo retingir num papel.
Ancoro-me cravando o peso no solo do fundo do mar.
Onde as águas me representam mulher, sereia e forte.
Onde as águas me fincam no chão e só consigo dar voltas em torno deste lugar.
E se eu tirar a âncora de lá? Para onde eu vou?
Nunca saí deste perímetro, ou já saí e não me lembro mais como era.
Nunca saí deste ponto, ou já saí e temo porque acabou.
Já saí do hábito, foi bom, mas não me lembro como é que se faz.
Sei que se parece com o despertar e a força que se tem que fazer para sair debaixo do cobertor de algodão.
O porto sou eu.
Só me falta ele ser seguro.
Certas demolições têm-no tornado.
Tomo um vento de maré, confio nas ondas, mas volto ao porto.
Ouço a gaivota ao longe, confio no canto, mas volto ao porto.
Ouço o apito do navio, confio no estrondo, mas volto ao porto.
Ancoro-me nas lembranças que não consigo retingir num papel.
Ancoro-me cravando o peso no solo do fundo do mar.
Onde as águas me representam mulher, sereia e forte.
Onde as águas me fincam no chão e só consigo dar voltas em torno deste lugar.
E se eu tirar a âncora de lá? Para onde eu vou?
Nunca saí deste perímetro, ou já saí e não me lembro mais como era.
Nunca saí deste ponto, ou já saí e temo porque acabou.
Já saí do hábito, foi bom, mas não me lembro como é que se faz.
Sei que se parece com o despertar e a força que se tem que fazer para sair debaixo do cobertor de algodão.
O porto sou eu.
Só me falta ele ser seguro.
Certas demolições têm-no tornado.
terça-feira, 12 de abril de 2011
Chá Verde
Ganho um céu de rosas despetaladas
Tenho poeira de sonhos descridos
Eu sou como poeira na estrada
Alçada pelo vento pré-tempestivo
Pó, um grãozinho de areia ínfimo
Mas dentro de mim tenho a grandeza
De um universo tão multi e íntimo
Que até me despensa a certeza
De que seja possível
De que seja cabível
De que estou ao nível
De que será infalível
É ca fé que eu tomo
É ca fé que eu preparo
É ca fé que me tira o sono
É ca fé que me amparo
Para crer nos sonhos de poeira
Novamente virando canteiro
Para que as pétalas em roseira
Se fixem fora do antigo cativeiro
Poeira ao vento
Poeira ao vento
Poeira ao vento
Poeira ao vento
Distância
Aos cantos do mundo escrevi
Aos mundos que escrevi, cantei
Um grito, um sussurro, um sopro de lágrima
Alfabetizei-me com os seus sinais
Criei muros, ergui paredes intelectuais
que te levavam para longe e você
carregava consigo a minha paz...
Não por vontade sua, eu sei.
As razões foram minhas.
A crítica da razão impura.
Você tem razão:
A razão de eu ser assim não me dá razão
de ir por ali, longe, longe,
negando, negando, negando até afirmar.
Eu sequer me rendia a dar graças
À sua pessoa.
Tão multi-persona.
O que importa?
Se eu me embebia era de sua essência,
A sua alegre presença
Que me acordava as manhãs
De cores claras, tonificadas clarezas de
manhãs com línguas de mariposa na cabeça
e borboletas azuis e branco no estômago.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
A menina e o gato.
Todos os dias há um encontro entre uma menina e um gato.
...
Gato:_ Pobre menina, com essa cara meio sonsa, vem aqui escrever versos no seu caderno. Quando menor, seus pais lhe amarravam a mão esquerda para que se tornasse direita. É canhota, pela pressão da vida tornou-se ambidestra, mas o esforço para escrever com a mão direita a impede de fazer da escrita algo que corporifique as subjeções.
E então eu me questiono. O que serão de seus versos? Penso que ela terá pobres poemas confusos. O que seus amiguinhos sonetos vão dizer na escola? Que ele foi escrito pela mão esquerda! Senhor, é muita pressão para uma lírica!
O que ele vai dizer quando lhe perguntarem onde estão as rimas? As metáforas? E a caligrafia, meu Deus, não é caligrafia que se preze. Chacota diária vai ser pela metrificação irregular.
Racionalidade, veja lá! Infelizmente o mundo é assim, minha querida.
Menina:_ Ohn... pobre gatinho, vem aqui procurar ervinhas alucinógenas. Deve ser duro viver na realidade de gato o tempo todo. Come, dorme, se lambe, um dia vomita uma bola de pelos. Me olha com cara de indiferença, mas vem se esfregar nas minhas mãos. Gatinho, deve ser tão feliz, assim, loucão de ervinha pra gato, ri àtoa, não deve se preocupar com nada na vida. Totalmente entregue aos instintos de gatinho e é por isso que você entende a minha dor. Sabe, gatinho... um dia eu ainda leio os meus poemas pra você.
...
E todos os dias eles dormem pensando que vivenciam a vida um do outro quase que interinamente.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Boneco de pano
Senta aqui na minha mão, boneco de pano.
Aproveite para olhar a linha da minha vida.
Bem debaixo da sua bunda, assim.. à esquerda.
Veja que meus traços são fortes.
Que minha pele é áspera, que minhas cutículas
São ressecadas e me machucam as unhas.
Não tenho calos, mas não é difícil de fazê-los.
Senta aqui no meu ombro, boneco de pano.
Aproveite para olhar dentro do meu ouvido.
Bem ao seu lado à altura da sua cabeça.
Veja que daí não se pode ver o meu cérebro.
Que meus tímpanos ressoam quando você grita.
Que há cera que me atrapalha ouvir.
Não tenho cravos, mas se tivesse os tiraria.
Senta aqui no meu peito, boneco de pano.
Aproveite para sentir meu coração batendo.
Bem debaixo da sua bunda, ao lado do meu seio esquerdo.
Sinta que ele reverbera em seu corpo.
Que ele tem um ritmo comum, nada muito frenético.
Que o pulsar te faz se apoiar em meus seios.
Não tenho taquicardia, mas meu coração bate forte.
Agora que você sabe da geografia do meu corpo, boneco de pano.
Começa a olhar para a minha alma.
Aproveite para olhar a linha da minha vida.
Bem debaixo da sua bunda, assim.. à esquerda.
Veja que meus traços são fortes.
Que minha pele é áspera, que minhas cutículas
São ressecadas e me machucam as unhas.
Não tenho calos, mas não é difícil de fazê-los.
Senta aqui no meu ombro, boneco de pano.
Aproveite para olhar dentro do meu ouvido.
Bem ao seu lado à altura da sua cabeça.
Veja que daí não se pode ver o meu cérebro.
Que meus tímpanos ressoam quando você grita.
Que há cera que me atrapalha ouvir.
Não tenho cravos, mas se tivesse os tiraria.
Senta aqui no meu peito, boneco de pano.
Aproveite para sentir meu coração batendo.
Bem debaixo da sua bunda, ao lado do meu seio esquerdo.
Sinta que ele reverbera em seu corpo.
Que ele tem um ritmo comum, nada muito frenético.
Que o pulsar te faz se apoiar em meus seios.
Não tenho taquicardia, mas meu coração bate forte.
Agora que você sabe da geografia do meu corpo, boneco de pano.
Começa a olhar para a minha alma.
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